O varejo é o setor que mais vai sofrer com um auxílio emergencial em 2021 menor que o de 2020, devendo perder quase 12 seu faturamento projetado para este ano, ou cerca de R$ 190 bilhões em vendas. A crise afeta principalmente as micros e pequenas empresas, também de outros setores. Fragilizadas, sem capital e com pouco acesso a crédito, muitos desses pequenos negócios vão continuar fechando. Cada vez mais quem domina o mercado são grandes grupos.
Segundo economistas, a renovação do auxílio emergencial em 2021, ainda menor que o benefício de 2020, é necessária – e urgente. Motivos: a pandemia no Brasil não foi controlada; pelo contrário, apresenta uma segunda onda de contaminações e mortes. Cidades voltam a impor medidas de restrição. Para piorar, a vacinação está lenta.
Eu não descarto que 2021 seja pior que 2020, mesmo com algum auxílio emergencial, que já vai ser menor. Vamos lembrar que entramos em 2020 com vendas em ascensão. Já em 2021, entramos no ano com uma situação de empresas já combalidas. (Altamiro Carvalho, assessor econômico da FecomercioSP)
Micro e pequenas empresas sofrem mais
Os setores da economia que mais precisam do auxílio emergencial para não quebrar são os que dependem mais das vendas para a população de menor poder aquisitivo -também os brasileiros mais vulneráveis. Estão nesse grupo as micro e pequenas empresas do varejo e os informais que vivem do comércio para as famílias que consomem no próprio bairro, nas periferias, ou da circulação de trabalhadores e estudantes que usam os transportes urbanos e metropolitanos.
A maior parte dos cerca de R$ 200 bilhões que o governo federal injetou na economia em 2020 por meio do auxílio emergencial foi parar no pequeno comércio de mercados, feiras, lojas, restaurantes e bares, serviços de beleza e de manutenção.
O economista da FecomercioSP estima que os beneficiados do auxílio emergencial utilizam, em média, 66 renda em compra no varejo. Sem esse dinheiro, essas famílias que já perderam renda por causa da pandemia ficam ainda mais pobres. E não podem consumir.
Pequenas empresas sem crédito e sem capital
A suspensão – ou mesmo a redução – do auxílio emergencial afeta mais o setor de varejo, mas atinge micro e pequenas empresas de outros ramos, como a pequena indústria. O motivo: esses pequenos empresários não têm uma reserva de capital nem acesso a crédito para atravessar mais um ano de incertezas.
Existe uma lacuna de crédito para as micros, pequenas e médias empresas que não foi coberta pelas linhas de financiamento abertas pelo governo, como o Pronampe. Empresas maiores têm maior acesso ao crédito, um capital que funciona como colchão na crise. (Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de estudos em microfinanças e inclusão financeira da FGV)
Estudo da FGV liderado pelo economista Lauro Gonzalez mostrou que ano passado havia uma necessidade de crédito entre as micros e pequenas empresas da ordem de R$ 202 bilhões. “Como as linhas abertas pelo governo para esse segmento, como o Pronampe, não chegaram a R$ 50 bilhões, então ainda temos uma grande lacuna”, diz o coordenador do FGVcemif.
Outros estudos feitos pelo FGVcemif em 2020 mostraram que sem o auxílio emergencial a perda média de renda para o trabalhador no Brasil seria de cerca de 18%.
O auxílio não se restringe ao bolso de quem o recebe, mas ele faz circular o dinheiro na economia. Embora não tenhamos o mesmo nível de fechamento das atividades de 2020, o fato é que a pandemia continua afetando a economia. E já temos indícios dessa piora, como vimos nos dados do varejo de dezembro. Com o agravante de que estamos em uma segunda onda da covid e que a vacinação está parando em muitas cidades por falta de doses. (Lauro Gonzalez, coordenador do FGVcemif )
Maior concentração
O resultado dessa combinação de coisas é uma maior concentração da economia brasileira na mão de menos grupos, apontam os economistas.
Enquanto as pequenas empresas precisam fechar as portas, as grandes companhias – como os grupos grandes de supermercados, farmácias e vestuário – são mais capitalizados. Ou seja, têm mais dinheiro em caixa. Além disso, conseguem mais facilmente linhas de crédito.
“Na recessão entre 2014 e 2016, das cerca de cem mil empresas que fecharam no país naquele período, 98,5 mil eram micro, pequenas e médias empresas. Isso está acontecendo novamente”, diz o economista da FecomercioSP.
Impacto no PIB
Estudo feito pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (Made FEA/USP) mostrou que se o auxílio este ano for pago em quatro parcelas de R$ 300,00, o PIB do Brasil pode ser 1,1% maior.
O estudo então mostra que essa injeção de recursos ajuda as famílias mais carentes no primeiro momento, e acaba se multiplicando também via consumo e investimentos. O trabalho da FEA/USP apontou que para cada R$ 1 de auxílio emergencial recebido por uma família isso virou R$ 1,58 em consumo ao longo de três trimestres.
Esse auxílio emergencial que circula como consumo das famílias, depois que chega às mãos do empresário acaba também virando também investimentos. Para cada R$ 1,00 injetado na economia via benefício é gerado R$ 1,60 de novo investimento depois de um ano, segundo o estudo do Made FEA/USP.
O auxílio vira uma fonte de consumo importante principalmente para os pequenos comerciantes. Por isso, quando o auxílio é retirado ou reduzido, o negócio deles é afetado de uma maneira geral. (Matias Cardomingo, economista do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades – Made da FEA/USP)
Fonte: Uol Economia
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